Todos os pais anseiam pela entrada do seu filho na creche. Existe receio quanto à separação e a forma como que a criança se vai adaptar a uma nova rotina. No entanto, quem vive um maior estado de ansiedade são os pais, pois as crianças têm uma grande plasticidade que permite uma melhor adaptação a um meio ambiente estranho.
O bebé tem uma grande facilidade de criar laços afectivos com uma pessoa estranha, quando essa lhe transmite segurança e confiança. Esse processo de adaptação é normalmente mediado pelos pais, pelo próprio educador ou pelos companheiros de grupo. Quando se trata da entrada na creche a sua adaptação vai ser influenciada pelos familiares envolventes neste processo.
Existem cinco momentos da vida de um bebé a ter em conta, quando se trata da adaptação a um novo ambiente. Ao conhecer estes momentos, os pais sabem com o que podem contar em cada fase, podendo preparar-se para a situação.
Seis meses |
Vínculo afectivo com os pais |
Dos três aos cinco meses |
O bebé não chora nem protesta quando os pais saem, a menos que encontre-se frequentemente ao colo |
Dos seis aos oitos meses |
O bebé coloca-se numa posição estranha perante alguém que não conhecem |
Dos doze aos vinte e quatro meses |
A criança mostra um maior apego aos pais sendo uma fase onde parece haver uma regressão e não uma progressão |
Aos três anos |
A ansiedade de afastamento dos pais tende a decrescer |
Para além do processo de adaptação, existem outros factores de preocupação para os pais, como as condições físicas do espaço e as pessoas que lá se encontram. A estrutura física deve ter uma boa apresentação e condições apropriadas ao tipo de crianças que frequentam o espaço, tal como idades e limitações. Mas para os pais, não chega apenas o espaço ser muito bonito e colorido. Este tem que ser acolhedor e promotor para o desenvolvimento do seu filho. É importante que exista um local de acolhimento para os pais, onde possam ser feitas reuniões, a apresentação dos projectos lectivos, conversas de carácter particular, ou seja, um local onde os pais possam ser recebidos e estarem à vontade. Em relação ao material e aos brinquedos, para além da sua adequação à idade, devem ser de carácter pedagógico, para ajudar no desenvolvimento correcto da criança.
Em relação à questão humana, deve existir uma boa qualidade no atendimento. A primeira impressão para os pais é bastante importante e pesa muito na hora de fazer uma escolha. Um dos aspectos que jamais deve ser esquecido pelos pais é as competências e qualidades humanas da pessoa que vai ficar grande parte do tempo com a criança. Não basta ter formação na área mas deve ser "pessoa", pois as crianças são o reflexo das pessoas que estão envolvidas no seu desenvolvimento.
Quanto à matrícula, esta não deve ser apenas um processo burocrático mas também uma situação onde podem conhecer melhor o espaço, as pessoa e colegas, histórias anteriores… mas, não devem estar demasiadas pessoas presentes. Deve ser marcada uma data prévia para a entrada do bebé e deixá-lo no espaço nas primeiras vezes durante períodos curtos, para que seja possível estabelecer-se um contacto gradual com a educadora e com o espaço. Nesses primeiros encontros haverá uma exploração e familiarização, criando um vínculo com a educadora e com o espaço, estando posteriormente preparado para viver a separação. Os pais não devem passar a fronteira entre o espaço de acolhimento às crianças e a sala de aula. Entrar em sala não deve ser permitido. Para a criança é importante que seja claro o local e o momento de dizer adeus aos pais, para que esta saiba sempre com o que pode contar. Passar essa barreira é razão para uma nova birra ou sessão de choro.
Assim sendo, a reacção dos pais vai depender das representações sociais da creche, do seu papel na vida daquele filho e de como é visto o educador junto à criança. Caso exista dificuldades por parte dos pais nessa adaptação, poderá mesmo haver uma intervenção por parte da creche em ajudar a família a adaptar-se à nova situação.
Para além de todo este processo é necessário ter em conta outros aspectos importantes. Muitas das vezes, os pais manifestam alguma ansiedade em relação ao choro do bebé, mas este é normal e pode mesmo prolongar-se durante vários dias. A ansiedade desse choro dará uma pista à educadora de que este bebé precisa de algum aconchego, conforto e calor humano. Os pais não devem sair às escondidas para que a criança não dê pelo seu afastamento, pois só vai criar mais ansiedade em afastamentos futuros, seja na escola ou em casa, com pessoas conhecidas ou não. Também é normal que chore quando reencontra os pais, pois, é uma forma de desabafo por parte do bebé ao reencontrar a pessoa com quem está habituado a passar grande parte do tempo. Por vezes, o choro é intencional para conferir algum impacto, quando sente que os pais não estão confiantes. A segurança e confiança são fundamentais para que a criança perceba que está num local seguro e que os pais afastam-se durante um período de tempo, mas regressam sempre.
Outro aspecto fundamental neste ingresso é quando já existem irmãos mais velhos a frequentar o mesmo espaço. Nestes casos, o processo de adaptação não se resume aos primeiros dias. É necessário dar atenção aos comportamentos do irmão mais velho pois pode sentir-se colocado à parte quando o mais novo ingressa. Este pode até apresentar regressões em certas competências já adquiridas. Só quando todos interagirem de forma integrada e descontraída é que a adaptação está completa.